O
apelo é uma prática bastante conhecida no meio evangélico contemporâneo.
Consiste em uma chamada para que pessoas tomem uma decisão de aceitarem a
Cristo e se tornarem salvas e parte da família de Deus. Este tem sido tratado
como uma resposta necessária ao processo de conversão. Isto é, se há alguém que
não responde por esse meio, pode-se deduzir que nunca “conheceu” a Cristo.
Frequentemente é, assim, estabelecida uma ligação entre a resposta ao apelo e a
salvação.
O
fato é que, não raras as vezes, os que respondem a esse apelo não têm entendido
nada do Evangelho. Isso porque as respostas, nesses casos, não passam de
remorso misturado com emocionalismo. Pessoas tendem a atender ao apelo devido
às circunstâncias em que suas vidas se encontram. Se estão doentes, respondem
ao apelo. Desempregadas, respondem também. Precisam de um milagre… E assim vai.
Mas
será que a Palavra de Deus nos ensina a praticar tal feito?
A
Bíblia nos mostra uma série de princípios, desde como o pregador deve trazer o
sermão, até como deve aplicá-lo. Essa conjunto forma a Doutrina do Chamado ao
Evangelho. As Escrituras, de fato, ensinam que devemos convidar pecadores a se
arrependerem (Mt 3.2, Mc 1.15, At 3.19). O pregador deve fazê-lo. O seu trabalho
não será completo até que ele o faça, mas que faça de tal forma que o mérito da
salvação seja somente de Cristo e não do pecador que se arrependeu (Ef 2.8,9).
A
forma do apelo praticado hoje não existia na Igreja primitiva, e nem mesmo até
por volta do séc. XVIII. A Igreja simplesmente praticava o aconselhamento
individual e a catequese, de maneira que, através da membresia, eram conhecidos
os convertidos. Richard Baxter era um exemplo dessa prática. Ele costumava
visitar 15 casas por dia, além de pregar constantemente na igreja na qual era
pastor.
O
sistema de apelo, ainda que praticado de forma bem intencionada, não está em
conformidade com o que as Escrituras ensinam a respeito do chamado e da
conversão. Não tem fundamento nelas.
Simplesmente exalta a figura do homem e não a de Deus. Existem diversas razões
pela qual o apelo praticado na atualidade não é bíblico. Deixe-me tratar
alguns.
Primeiro,
é que o Espirito Santo não precisa da ajuda do pregador para produzir seus
convertidos. É Ele quem convence o homem de seus pecados (Jo 8.16). O que vemos
hoje é uma série de atitudes manipulativas, tomadas pelo pregador ou pela a
Igreja para mexer com o estado emocional de quem ouve, a fim de que tome uma
“decisão” e vá até Cristo, colocando, assim, o poder da salvação sobre a
pessoa. Ninguém pode ser salvo por conta própria. O homem é salvo pela graça de
Deus e Seu poder. “Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito,
dizendo: Quem poderá pois salvar-se? E Jesus, olhando para ele, disse-lhes: Aos
homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.25,26).
A
segunda razão é que, atender ao apelo, não é a forma que evidenciará a
salvação. Judas atendeu ao chamado de Jesus, caminhou com Ele, e nem por isso
foi salvo. Assim também como Demas (2 Tm 4.10). O ponto é que a resposta ao
apelo causa uma impressão de um momento decisivo de migração do estado de
condenação para o estado de salvação, mas essa resposta não garante a salvação.
O pecador que respondeu ao apelo passa a acreditar que agora merece morar no
céu porque assim decidiu. Podemos chamar isso de salvação pela decisão, que é
heresia.
Terceiro,
é que o pecador que ouve que para ele ser salvo depende de sua decisão, passa a
acreditar que foi salvo pelos seus méritos. Quando não é a verdade. Se somos
salvos, é porque Cristo pagou o preço. A salvação é mérito somente de Cristo e
toda a glória deve ser dada somente a Ele.
E ainda que um dia alguém tenha decidido ir até Ele, foi senão porque
Deus o levou (Jo 6.37). Atribuir mérito da salvação à decisão tomada pelo
pecador é um grave erro, pois as Escrituras deixam claro que não somos salvos
por nossas obras. Além disso, o pecador que entende que foi salvo por sua
decisão logo se gloriará e se encherá de orgulho de si. A Palavra deixa claro
que ninguém tem do que se orgulhar: “Não vem das obras [salvação], para que
ninguém se glorie” (Ef 2:9).
A
quarta e última razão é que a salvação pertence somente a Deus. Não existe nada
que o homem possa fazer para conquistá-la. Até mesmo a maior obra do mundo não
será capaz de comprar tal feito. “Aqueles que confiam na sua fazenda e se
gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles de modo algum pode remir
seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele” (Sl 49.6). Além disso, como já ficou
claro, o homem não pode atribuir a ele um dom que pertence a Deus: “Do Senhor
vem a salvação” (Jonas 2:9).
Portanto,
qualquer método de apelo que apresente tais características se torna
repudiável. Nosso dever é chamar pecadores a se arrependerem e colocarem sua
confiança somente no sacrifício de Cristo. Quando convidarmos pecadores a tal
feito, verdadeiramente o Espirito Santo irá agir.
Lucas
Balbino (site: Jovem reformado)