Propósito da Igreja:

Propósito da Igreja: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações." Atos 2:42

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Por que sou reformado?

Atualmente, mais que há algum tempo, algo tem acontecido no cenário “evangelical” brasileiro. Muitas pessoas, em sua maioria jovens, têm crescido em igrejas onde não há uma doutrina bíblica, ou onde esta é negligenciada; igrejas que possuem uma forma de culto e toda uma cultura carregada de elementos contemporâneos, mas que dão pouquíssima ou nenhuma ênfase ao seu passado como tradição, ou mesmo como origem. Em dado momento, essas pessoas são confrontadas com uma teologia denominada “reformada”.

 
A princípio, há um choque com a maioria dos dogmas que aprenderam desde que se entendem por cristãs. “Tenho livre-arbítrio ou não?”, “Afinal de contas, posso perder minha salvação, ou ela é permanente?”, “Se Deus já predestinou todas as coisas, por que orar?”, “Se Deus é soberano, e nada acontece sem que ele queira, Ele criou o mal?”. São esses alguns dos questionamentos mais comuns que assombram a mente dos recém-reformados. Muitos, sem saberem ao certo de onde surgiram tantas doutrinas, ficam totalmente perdidos, como nunca ouviram falar delas antes de alguém lhes apresentá-las.
 
Ser reformado implica ser pertencente a um grupo de pessoas que têm toda sua tradição e doutrinas cristãs originadas na Reforma Protestante: um movimento que veio à tona no século XVI e que trouxe de volta o ensino correto da Palavra de Deus. A Reforma trouxe a libertação do erro que obrigava pessoas a simplesmente aceitarem o que lhes era dito, sem que ao menos pudessem ter a possibilidade de conferir por elas mesmas o que era pregado, o exato oposto do que fizeram os crentes bereianos (At 17.10,11). Seu marco foi a fixação de 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, em 31 de Outubro de 1517, por um monge chamado Martin Luther (Martinho Lutero). Lutero almejava a restauração da Igreja que havia se corrompido pregando falsas doutrinas – a exemplo da salvação pelas obras, através da aquisição de indulgências (documentos que forneciam o perdão de pecados para as pessoas que as adquirissem, ou para um familiar que havia morrido).
 
No entanto, a Reforma tem seu início bem antes, assim como teve um alcance muito maior. Em meados do século XIV, um professor inglês por nome John Wicliff, foi o precursor do movimento de reforma religiosa que abalou a Europa em seu tempo. Wicliff também desenvolveu 33 teses, que, por sua vez, questionavam o poder do Papa ao escravizar os fiéis ao erro, afastando-os de uma compreensão correta acerca de doutrinas contidas nas Escrituras. Anos mais tarde, passando por muitos outros nomes, como John Huss, Lutero, chegamos até John Calvin (João Calvino), que teve enorme peso no tocante à sistematização e avanço do movimento. O trabalho que Calvino desempenhou na Suíça, também no século XVI, foi importantíssimo para a consolidação do movimento. Seu esforço árduo permitiu que ele escrevesse inúmeros livros e artigos que defendiam o ensino das Escrituras Sagradas. Sua interpretação fiel ao texto ensinando-a ao povo foi, como todos os outros reformadores, o ponto-chave para que a Reforma pudesse alcançar seu objetivo principal: trazer de volta ao centro a importância da Palavra de Deus como regra de fé e prática.
 
Os reformadores tiveram como base de trabalho, cinco pontos que puderam nortear todo o seu empenho. Esses pontos ficaram conhecidos mais tarde como As Cinco Solas: Sola Gratia (Só a Graça), Sola Fide (Só a Fé), Sola Scriptura (Só a Escritura), Solus Christus (Só a Cristo) e Soli Deo Gloria (Só a Deus a Glória). Como já percebemos de todos esses pontos, o que mais se destaca como foco de atuação dos reformadores é o Sola Scriptura. Mas por quê?
 
Desde a criação do homem, Deus têm revelado Sua vontade por meio de Sua Palavra: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo:
De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” ( Gn  2.16,17). Sem ela não poderíamos conhecer a mente do Criador, tampouco o que Ele deseja de nós. Ficaríamos, portanto, presos ao pecado e ao erro. E foi exatamente o que aconteceu durante toda a Idade Média. A igreja Católica privou o povo do ensino correto das Escrituras, substituindo pela tradição eclesiástica; ou seja, a regra de fé e de prática não era mais o que havia sido dito por Deus, mas, agora, pelo que a igreja dizia ser a Sua vontade.
 
A Palavra  de Deus revela que Sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” ( Hb 11.6); bem como que “A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Rm 10.17).  Desta forma, é evidente que a Bíblia tem um fator primordial no plano de salvação, e que sem ela é impossível alcançá-lo. Os reformadores entenderam isso, e como reação, batalharam para trazer de volta ao centro da vida a Palavra do Senhor de forma fiel e pura, assim como foi deixada pelo Espírito Santo para que fosse usada.
 
Quando se pensa em Reforma em nossos dias, os primeiros nomes ou imagens que nos vêm à mente são Lutero ou Calvino, ou ainda outros nomes de pastores ou de igrejas; quando, na verdade, isso não configura seu o real significado. Ao pensar sobre Reforma, deveríamos ter em mente as Sagradas Escrituras, pois toda a luta reformada, conforme mencionado, se direcionou em trazer ao centro da vida das pessoas o conhecimento da perfeita vontade de Cristo, contidas na Palavra, permitindo que ela regesse suas vidas, cultuassem, trabalhassem da forma como o Senhor deseja.
 
Ser reformado vai bem mais além do que simplesmente ter um “vocabulário teológico” ou saber responder as perguntas que foram feitas no início do texto. Ser reformado significa carregar uma tradição que teve como base o amor e apego à Palavra de Deus, e o respeito a ela. É entender que, se podemos hoje ser cristãos, se deve ao fato de que o Criador, em sua providência, levantou homens para pregar Sua palavra, quando tudo ao redor, na verdade, conspirava para que ela fosse esquecida. Assim, pessoas conheceram seu conteúdo e foram chamadas por Deus a pregarem o Evangelho em outras partes do mundo, chegando, então, até nós.
 
A Reforma é um brado de vitória em um mundo escravizado e marcado pelo pecado e pelo afastamento da vontade de Deus contida em Sua palavra. Então, ao lembrar de que você é reformado, ou quando se deparar com este nome, lembre-se da herança que você herdou e da responsabilidade que agora tem de manter acesa a chama do amor a esta Palavra. Lembre-se que muitos homens deram suas vidas em amor a Cristo, e em dedicação ao que ela ensina.
 
Que o Criador sorria para nós, e nos ajude a percebermos quão sagrada é Sua Escritura, e quão maravilhoso é ter sido agraciado por Deus com algo tão poderoso capaz de mudar a mente e o coração do homem, ao fazer com o que abandone o pecado e se torne graciosamente a Ele. Que sejamos sempre gratos a Ele, por agir com misericórdia para conosco, a ponto de fazer explodir um movimento que traria de volta ao centro aquilo é a lâmpada para os nossos pés, e luz para nosso caminho: SOLA SCRIPTURA!
22 anos, cristão, escritor, blogueiro. Estudante de teologia. Membro da Igreja Presbiteriana de Jardim São Paulo, Recife – Pernambuco.