Dentre os muitos assuntos
controversos no seio cristão, certamente o "pecado contra o Espírito
Santo" é um dos que mais agita os ânimos e causa discussões, muitas vezes
intermináveis. Inúmeras pessoas têm tecido os mais diversos comentários sobre o
que seria o pecado imperdoável, como, por exemplo, se vê em alguns exemplos
retirados da internet:
- suicídio;
- negar a trindade;
- todo e qualquer pecado pelo
qual o pecador não se arrepende;
- presunção de salvação;
- incorrer no mesmo erro muitas
vezes;
- ateísmo;
- não acreditar na misericórdia
de Deus.
Como se pode notar, toda sorte de
obstinações e rebeldias são colocadas como sendo o pecado imperdoável.
Entretanto, como veremos a seguir, o contexto em que os versículos se encontra
é muito claro em demonstrar qual é este pecado, de maneira que podemos,
seguramente, ter o devido conhecimento por meio da leitura bíblica, não havendo
necessidade alguma de ser grande erudito ou conhecedor supremo de certas
minúcias bíblicas.
Boa parte dos erros de interpretação
decorrem do fato dos leitores não atentarem para o contexto imediato do texto,
quer dizer, se o texto está falando de árvores frutíferas e as relacionando com
a saúde que proporcionam, a conclusão não pode ser contrária
ao contexto, ou seja, ninguém pode o ler e concluir, a título de ilustração,
que a saúde advém da maldade do homem - isto seria completamente descabido,
pois em momento algum o texto se refere a isso.
Tendo o ponto acima como
pressuposto, precisamos relembrar qual o contexto do versículo.
Ora, é muito cristalino que nosso
Mestre está efetuando milagres e o povo questionando, "Não é este o Filho de Davi?" (Mt 12.23). Mas,
enquanto estes se maravilhavam, os fariseus assim diziam: "Este não expulsa os
demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios" (Mt 12.24).
Cristo, então, lhes demonstra claramente a estupidez do pensamento, afirmando
logicamente que, "Todo o reino dividido
contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma
não subsistirá." (Mt 12.25). Isto é, o Filho lhes mostrava que não
era sequer crível crerem que Ele estava expulsando demônios pelo poder do
príncipe deles, afinal, "E, se Satanás expulsa a
Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?" (Mt 12.26).
O que Cristo estava dizendo é que
se Ele expulsava os demônios com o poder dos demônios, estaria havendo uma
completa contradição, porque "como pode alguém
entrar na casa do homem valente, e furtar os seus bens, se primeiro não
maniatar o valente, saqueando então a sua casa?"
(Mt 12.29). Noutras palavras, para que o poder do Senhor libertasse o
cativo, era necessário, primeiro, expulsar o espírito mal que habitava na
pessoa, a fim dela ser livre e seguir a Deus. E para não sobejar dúvidas quanto
à oposição de Cristo com relação aos fariseus, assim disse: "Quem não é comigo é
contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha"
(Mt 12.30).
Após este desenrolar, então, é
que Cristo afirma que existe um certo pecado que não será perdoado: "Todo o pecado e
blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será
perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do
homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não
lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro" (Mt 12.31-32).
O texto, portanto, se torna fácil
de entender, pois o pecado a que o Cristo se refere tem ligação com o que os
fariseus estavam falando - e o que estavam dizendo? "Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos
demônios" (Mt 12.24).
Desta forma, podemos,
seguramente, concluir que o pecado contra o Espírito Santo, consiste em
se atribuir uma obra nitidamente divina e vinda de Deus, ao Diabo. Este
pecado é cometido quando alguém é iluminado e, vendo a obra nítida do Senhor,
se recusa a prestar honra ao Criador, como lemos em Hebreus: Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e
provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, E
provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, E recaíram,
sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de
novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério" (Hb 6.4-6). Tais pessoas cometem este
pecado porque, nas palavras do apóstolo, "tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração
insensato se obscureceu" (Rm 1.21). Estes que cometem tamanho
horror, sabem que determinada obra vem do Senhor, mas porque interiormente são
profanos e blasfemos, atribuem as bem-aventuranças ao Diabo.
Em casos práticos, é dizer que a mudança de vida ocorrida em determinada pessoa (para o bem), em verdade vem do Diabo ou que as bênçãos recebidas por outrem, na verdade foram operadas pelo inimigo. É ter ciência do poder sobrenatural de Deus, mas se recusar a dobrar-se diante do Eterno e Soberano.
Em casos práticos, é dizer que a mudança de vida ocorrida em determinada pessoa (para o bem), em verdade vem do Diabo ou que as bênçãos recebidas por outrem, na verdade foram operadas pelo inimigo. É ter ciência do poder sobrenatural de Deus, mas se recusar a dobrar-se diante do Eterno e Soberano.
Ademais, o pecado contra o
Espírito Santo não é perdoado por se assemelhar à chegada ao nível máximo da
perversidade contra Deus, como vemos: "E a quarta geração tornará para cá; porque a medida
da injustiça dos amorreus não está ainda cheia" (Gn 15.16 - grifado
agora) - quando tal medida fosse completa, a descendência de Abraão mataria os
amorreus e habitaria na terra prometida. O mesmo entendimento se evidencia na
pena de morte aos crimes bárbaros (assassinato, estupro, premeditação,
tocaia...) e aos de blasfêmia no caso de um Estado cristão, pois diante do
Senhor nada pode ser mais grave do que atribuir ao maligno a autoria das
benesses divinas.
Por fim, para que nenhum crente
tenha dúvidas, a Escritura nos afirma que este pecado não pode ser cometido por
um verdadeiro cristão, afinal, assim temos a promessa: "Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a
boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo" (Fp 1.6).
Assim sendo, querido leitor, não
vague por bosques obscuros e de falha interpretação bíblica, pois uma vez que
toda a Escritura é inspirada e útil para o ensino (2Tm 3.16-17), ela mesma deve
fornecer uma resposta objetiva para todos os fiéis em Deus, de maneira que
todos são instruídos na clara e perfeita Palavra.
Felipe c. Machado
(felipe.machado.123@gmail.com)