O CHAMADO GERAL E CHAMADO EFICAZ
Esta é uma das verdades mais negligenciadas da Bíblia. Falava-se muito
sobre este assunto no passado. Também no tempo de Spurgeon e outros; mas, hoje,
só aqui e ali se ouve uma voz a clamar esta doutrina bíblica. Até nos atrevemos
a dizer que nove entre dez membros da igreja nem mesmo iriam opinar em relação
a esta verdade bendita.
A palavra “chamado” é usada, às vezes, para expressar o ato de nomear.
Por exemplo: em Mateus 1:21 lemos: “chamarás o seu nome JESUS”. Outras vezes,
emprega-se a palavra com a conotação do ato de convidar ou convocar, como em
Lucas 14:13: “Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e
cegos”.Quando a palavra “chamado” é usada para convidar, devemos fazer a diferença entre um chamado ao qual não se obedece e o outro que é eficaz – ao qual se atende. O objetivo principal do Evangelho é chamar as pessoas para a salvação, através da fé em Cristo. É óbvio que muitos destes chamados não são ouvidos, e muita gente continua perdida, apesar da pregação simples e apelo urgente. Por outro lado, vemos a pregação eficaz do Evangelho em muitos casos; vemos vidas transformadas por ele. Podemos ver um perdido ignorar e rejeitar
o Evangelho em uma ocasião e, depois, na próxima vez ou um pouco mais tarde, ser salvo por ele. O que faz a diferença? O pastor? Não, pois até pode ser o mesmo nos dois exemplos. O Evangelho? Não, pois é o mesmo nos dois casos. A diferença é feita pelo Espírito Santo em Seu poder de dar luz e vida ao coração do pecador. Ao se pregar o Evangelho “somente em palavras”, isto é, sem o poder vivificador do Espírito Santo, o pecador continua espiritualmente morto, e será ou indiferente ou contra o chamado do Evangelho.
O chamado eficaz é quase equivalente à regeneração. Em Romanos 8:30
vemos a ordem dos atos divinos na salvação: “E aos que predestinou a estes
também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou
a estes também glorificou”. Note que se usa a palavra “chamado”, ao invés de
“regenerado”. Os crentes, muitas vezes, são denominados “os chamados”, ou então
“os nascidos de novo”.
A BÍBLIA
FAZ DISTINÇÃO ENTRE OS DOIS CHAMADOS
Existem dois chamados de Deus para o homem. Um é o chamado geral, feito a todos quantos ouvem o Evangelho através da
audição. O outro é o chamado especial
e resulta na salvação daqueles que o ouvem. Os homens são salvos através deste
chamado divino. Paulo se refere aos crentes em Roma e em Corinto “chamados
santos”. Romanos 1:1 e I Coríntios 1:2. Ele pregou o Evangelho, sem distinção,
a judeus e gregos, em Corinto. Ao judeu natural, o Evangelho era um escândalo e
ao grego (gentio), uma loucura. “Mas para os que são chamados, tanto judeus
como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus”. I
Coríntios 1:24. Somente os chamados nos dois grupos viram o poder e a sabedoria
de Deus no plano da salvação, através do Cristo crucificado.
Vamos examinar alguns versículos que falam sobre o chamado geral. Em Provérbios 1:24 Deus diz: “Entretanto, porque eu
clamei e recusastes; e estendi a minha mão e não houve quem desse atenção”.
Este foi um chamado externo, feito
por Deus, através dos profetas, porém foi universalmente ignorado -- ninguém
lhe deu atenção. Em Mateus 22:14, lemos: “Porque muitos são chamados, mas
poucos escolhidos”. Eis um chamado feito a um número bem maior dos que foram
escolhidos e salvos. Na parábola da grande ceia, registrada em Lucas 14, nenhum
dos convidados apareceu, mas todos apresentaram desculpas.
Vamos, agora, examinar alguns versículos que falam sobre o chamado especial e eficaz. Em Romanos
8:28 lemos que tudo coopera para o bem “daqueles que são chamados segundo o seu
propósito”. “Os chamados” significa muito mais que “os convidados”, pois muitos
são convidados para virem a Cristo, porém nunca vêm e assim, não são salvos.
Para estes tudo não coopera para o bem. Em Romanos 8:30 lemos que os chamados
também são justificados. Há muitos chamados (convidados) pela pregação do
Evangelho que não são justificados. Paulo escreveu sobre o chamado eficaz na salvação ao dizer aos coríntios: “Porque, vede,
irmãos, a vossa vocação que não são muitos os sábios segundo a carne, nem
muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados”. I Coríntios 1:26.
Em II Pedro 1:10 somos exortados: “Procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição”. Em todas estas
passagens, o chamado é mais do que um simples convite externo para se crer no
Evangelho.
1. É SUBJETIVO OU INTERNO. Há um chamado objetivo ou externo, no qual o
Evangelho é apresentado e oferecido ao pecador. Neste chamado, a graça de Deus
opera na mente e no coração; ao lhe compelir (no sentido de submeter a vontade
humana à vontade de Deus), mas ao mudar a mente e o coração, através da
inclinação governante da alma, a fim de que se torne disposto. Podemos definir
o chamado eficaz com estas palavras: “Chamamos de convite eficaz ou o chamado
eficaz o exercício do poder divino sobre a alma; poder este imediato,
espiritual e sobrenatural, o qual transmite uma nova vida espiritual, tornando
assim possível um novo modo de atividade espiritual. O arrependimento, a fé, a
confiança, a esperança e o amor são, pura e simplesmente, os próprios atos do
pecador, os quais só se tornam possíveis a ele, em virtude da mudança feita na
condição moral de suas qualidades naturais, pelo poder de Deus de recriar”.
2. É UM
CHAMADO ESPECIAL. Existe um chamado geral cada vez e seja onde for que o
Evangelho for pregado. Deus é sincero neste chamado e o pecador tem a
responsabilidade de dar-lhe atenção, mas o fato é que não o faz. O chamado
especial é algo além da pregação do Evangelho, pois é feito àqueles que são
chamados ovelhas, eleitos, predestinados. Para estes, é sempre eficaz. Cristo
disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;
e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha
mão”. João 10:27-28. E, falando sobre as ovelhas perdidas entre os gentios, Ele
declara: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me
convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um
Pastor” João 10:16. Paulo reconheceu o eleito quando o Evangelho “Porque o
nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no
Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por
amor de vós” I Tessalonicenses 1:5.
John Bunyan ilustra a diferença entre o chamado especial e e o
geral através do modo como uma galinha chama os pintinhos. Às vezes, ela
cacareja, mas os pintinhos não dão a mínima atenção. Porém, quando cacareja
avisando-os que o gavião está para pegá-los, eles vêm voando, em busca de
proteção sob suas asas. Deus, do mesmo modo, tem um chamado que traz as ovelhas
perdidas ao abrigo e segurança sob as asas abertas do Calvário.
Spurgeon encontra uma ilustração para este chamado eficaz
na ressurreição física de Lázaro. Ele diz que se o Senhor Jesus não tivesse Se
dirigido pessoalmente a Lázaro, ao dizer: “Lázaro, sai para fora” (João 11:43),
todos os outros mortos teriam ressuscitado, ao ouvir Sua ordem. Nosso Senhor faz uma distinção entre a ressurreição espiritual e física
em João 5:25,28. Ele está falando sobre a ressurreição corpórea ao dizer: “Não
vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos
sepulcros ouvirão a sua voz”.
3. É UM
CHAMADO MIRACULOSO E INVENCÍVEL. Pedro diz que é um chamado para sair das
trevas para a Sua maravilhosa luz. I Pedro 2:9. Cristo diz que é este chamado
que faz o morto viver. Tal chamado tem o poder por trás. É o Espírito poderoso
de Deus, agindo pela graça, que faz o pecador ver seu estado de desamparo e o
valor do sangue de Cristo. Resistir, com sucesso a este chamado faria o pecador
mais poderoso do que Deus. Havia a morte e adecomposição em Lázaro para impedi-lo de reagir à ordem de Cristo de
sair do túmulo. Mas, havia poder de Deus, que vence todo e qualquer obstáculo
da natureza. Do mesmo modo, existe muita coisa no pecador que resiste ao
chamado do Evangelho, mas no chamado eficaz do Espírito esta resistência é
vencida. O chamado eficaz é divino e surpreende o pecador descuidado e o faz
pensar; traz luz ao entendimento obscurecido pelo pecado; abre o coração
fechado por causa do pecado para receber Cristo como Senhor e Salvador. Sem a
obra do Espírito Santo, a Palavra do Espírito seria rejeitada. A menos que o
Espírito Santo ilumine a alma, a luz da Bíblia não será vista. O poder da
conversão não está na inspiração nem na transpiração do pregador, mas na
iluminação e regeneração do Espírito Santo.
O chamado externo do Evangelho, feito pelo pregador, assemelha-se à lei
que acusa o réu e o leva ao julgamento; o chamado especial é o delegado que
entra em contato com o réu, prende-o e o leva ao tribunal. A recusa do réu em
se submeter à prisão não é prova de que seja superior à lei; mas se a lei for
incapaz de levá-lo ao tribunal, isto seria uma prova que ele é mais forte que a
lei. Então, quando o pregador convida os pecadores a se arrependerem e crerem
no Evangelho e eles recusam, isto não indica que o pecador é mais forte do que
Deus. Mas, se o Espírito Santo o chamar, vindo para dar para sua mente
obscurecida a luz do evangelho, para fazê-lo arrepender-se e ter fé, para lhe
dar um novo nascimento, e não conseguir, então isso provaria que o pecador é
mais forte que Deus, o Espírito Santo. A depravação pode ser demais para o
pregador, mas não para o Espírito Santo. É por isso que oramos, para que Deus
converta o pecador, quando pregamos a ele.
O chamado geral é como o pai que chama o filho para levantar-se de
manhã. O filho diz: “Ta bom!” e volta a dormir. O chamado não fez levantar; não
surtiu nenhum resultado. O chamado eficaz é como o mesmo pai entrando no quarto
do filho meia hora depois. Ele puxa o lençol e usa o cinturão. Isto funciona e
o filho levanta na hora.
B. H. Carroll assemelha o chamado geral ao
relâmpago, que é bonito e grandioso, mas não atinge nada; o chamado eficaz é
como o raio que sempre atinge algum lugar.
A NECESSIDADE DO CHAMADO EFICAZ
1. A
depravação humana, a condição da natureza humana caída, torna
necessário o chamado sobrenatural e eficaz, para que haja conversão do pecador.
O homem, por natureza, tem seu entendimento obscurecido pelo pecado. O coração
está totalmente endurecido e sua mente é inimizade contra Deus. Se o pecador
amasse a Deus e entendesse o Evangelho, ele imediatamente, ao ouvir o
Evangelho, com amor e alegria atenderia o chamado feito pelas boas novas da
salvação em Cristo. Mas, é preciso que o pecador passe por uma mudança de
coração e mente, antes de receber Cristo como Senhor e Salvador. Esta mudança
não é feita por ele mesmo e sim por Deus. Paulo disse a Timóteo para pregar, na
esperança de que “porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a
verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à
vontade dele estão presos”. II Timóteo 2:25-26.
Autor: C. D. Cole
Revisão 2004: David A Zuhars Jr
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br
Revisão 2004: David A Zuhars Jr
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br